
Desde pequena sempre tive grande atração pelo mar... E foi através deste mar, da busca por melhores performances para a prática de um esporte considerado de alto risco, mergulho livre ou em apnéia (somente com o ar dos pulmões), que eu encontrei o yoga.
Durante os treinamentos, competições e recordes, na busca por me tornar a melhor mergulhadora do mundo, eu percebi que era preciso algo mais, era necessário, primeiro eu ser a melhor Karol para eu mesma, dentro e fora da água, não somente fisicamente, mas também mental e espiritualmente.
O desafio simples de ficar o maior tempo sem respirar, descer cada vez mais fundo, se tornou um desafio bem maior, o da busca pelo auto conhecimento.
Comecei a perceber o que me atraia a permanecer no mundo subaquático... Os meus melhores mergulhos sempre continham um sentimento maior, gerador de uma grande paz. O meu encontro com a imensidão azul, com o silêncio, com algo tão belo e imenso como o mar, me faziam perceber que eu (ego) não era nada, ou melhor, eu era um simples pontinho no azul, mas que, ao mesmo tempo, presenciava uma imensa sensação de plenitude, por saber que fazia parte deste mundo maravilhoso.
Isto aconteceu várias vezes... Na água, quando fui acompanhada por uma imensa baleia franca e seu filhote, ou literalmente abraçada por um peixe-boi, ou mais recentemente, quando troquei olhares frente a frente com uma tartaruga. Outro momento que me chamou atenção, onde senti a mesma sensação de paz, foi quando, ao aprender a esquiar, peguei o teleférico e subi, subi, subi até a parte mais alta da montanha nevada, desesperada, tendo que descer no final, acabei caindo na neve fofa, branca, lá de cima, sozinha, eu não via nada além do céu e da neve, uma paisagem deslumbrante, espetacular, novamente o mesmo sentimento de paz, de gratidão.
É muito fácil cair num estado de isolamento, deixar-se influenciar pelas cobranças, pela competição, concorrência do dia a dia, pela necessidade de tudo controlar, pela busca desenfreada por títulos, vivendo como se estivesse perambulando em mundos conturbados e hostis, completamente desconectada e desequilibrada com o “todo”.
De leitura em leitura, prática em prática, percebi a facilidade com que nos deixamos envolver pelas pressões e imposições da sociedade e o quão longo e árduo é o caminho da liberdade. Mas como conseguir se livrar desde ciclo vicioso se vivemos numa sociedade que impõe regras de competição, metas, concorrência?
Talvez uma das portas de saída seja a busca de “sattwa guna”, que no yoga significa equilíbrio corpo, mente e espírito.
Mergulhada no yoga não tenho necessidade de vencer o outro, somente o desejo de fazer o meu melhor, de forma natural, com o espírito aberto, como de uma criança que vive sem medo, que tenta, que aceita, que se perdoa, que observa sem julgamentos e que sorri em paz.
Através do silêncio, dos pranayamas, da meditação, a mente se acalma e nos mostra a clareza que precisamos ter para agirmos neste mundo de forma consciente, rumo a uma vida mais liberta, feliz, sem insatisfações, sem medos fictícios, sem angústias, sem viver do passado ou tentando prever o futuro, me mantendo aberta e consciente no presente.
Cada prática de yoga é uma lição de vida e de como é preciso ter dedicação e disciplina para vivermos conscientes.
Costumo dizer àqueles que me questionam como eu consigo ficar mais de 18 minutos sem respirar que: “Eu não mergulho com o pulmão, eu mergulho sobretudo com meu coração.”
Muita gente não entende ... Dá gargalhas... Mas é a mais pura verdade, quando estou bem, em equilíbrio, sinto no peito uma enorme sensação de conforto, como se o coração se conectasse com algo superior, como se o ar dos meus pulmões duplicassem de volume, uma energia imensa geradora de paz, alegria. Após alguns pranayamas eu simplesmente esqueço de respirar por alguns minutos... Além disto, alcanço o meu objetivo dentro do mergulho livre, que é o de ficar o maior tempo possível submersa, em sintonia com a natureza, com maior facilidade e felicidade!
Mas mergulhar no yoga vai além... É mergulhar numa vida focada em seu verdadeiro propósito, é ouvir a voz do coração, da intuição, é praticar o Karma Yoga, compreendendo que somos responsáveis pelos nossos atos, porém não podemos controlar os resultados de nossas ações, e como isto é difícil, não?!
Afogando o ego e a turbulência mental, compreendo e aceito a lei maior da natureza, aquela que rege a existência de tudo, e deixo-me levar pelas águas dos oceanos.
Os recordes ficam registrados, têm o seu significado na história do esporte, porém nada se equipara à jornada, à experiência adquirida através dos momentos bons e ruins da vida e da percepção e do autoconhecimento que a prática do yoga e do mergulho propiciam, como forma de evolução em todas as dimensões.
Namastê 🙏🏻🧜♀️💦🐚
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